segunda-feira, 24 de abril de 2017

Tentações

Olhei-a, sentado no meu terraço
impávido e sereno,
cigarro aceso e um copo de bagaço,
antevendo o melaço do regaço daquela mulher.
Em pé, ombro apoiado na parede
mini saia preta e blusa de rede,
uma taça tinta de vinho na mão
e a cumplicidade de um Marlboro na outra. 
Sem infração, contou-me em silêncio segredos,
expondo-me os medos 
que ouvi e bebi, como se fossem minhas 
as pétalas de fumo que lhe nasciam nos lábios.
Embriagado pela subtileza dos gestos sábios,
cedi.
E fumei-lhe a espera,
num salgado jogo sem pressa 
ao leme da tentação.
Em maresia sem promessa...
entregues à ondulação, 
dois corpos famintos,
em goles de beijos tintos
salgados instintos de prazer carnal.
Devoção em alto mar
até a onda rebentar... 
... e a jusante da maré
lhes permitir regressar. 
 
Amantes citadinos num terraço ao pôr-do-sol,
nus.
- Só a liberdade é necessária para amar!

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